Plantas de Cobertura
O que são?
Toda e qualquer especie vegetal utilizada com a finalidade de cobrir o solo, com ou sem incorporação posterior, para produção de sementes e fibras visando a obtenção de renda extra e de alimentação animal.
Histórico
A utilização de plantas de cobertura é conhecida e utilizada desde a Era Cristã para recuperação solos degradados pelo cultivo, melhorar os solos naturalmente pobres e conservar aqueles produtivos (WILDNER, 2014). A observação dos resultados benéficos das plantas de cobertura fez com que essa pratica fosse utilizada por mais de dois mil anos, apesar de não ter nenhuma explicação técnica ou científica sobre o motivo desses benefícios (ROSSI; CARLOS, 2014).
No Brasil, o primeiro registro oficial sobre plantas de cobertura datam do ano de 1919 e relata que o êxito na prática das plantas de cobertura depende do estudo e da escolha das espécies de acordo com a cultura que se pretende beneficiar, das caraterísticas edafoclimáticas e circunstâncias socioeconômicas locais (WUTKE; CALEGARI; WILDNER, 2014).
Com a Revolução Verde, a partir dos ano de 1960, a utilização de plantas de cobertura perdeu, temporariamente, sua importância, com o surgimento e desenvolvimento de máquinas, equipamentos e insumos modernos. No entanto, a partir dos anos 1980, foi exatamente com uso de plantas de cobertura do solo que a agricultura brasileira deu um salto de qualidade. As plantas de cobertura tornaram-se componentes fundamentais em arranjos de sucessão e rotação de culturas, que viabilizaram tanto o Sistema de Plantio Direto quanto a integração lavoura-pecuária e os sistemas agroecológicos de produção (WILDNER, 2014).
Vantagens
A utilização de plantas de coberturas possibilita diversos benefícios para os sistemas de cultivo, tais como: a formação de cobertura vegetal para proteção do solo contra erosão, aporte de nitrogênio (no caso das fabáceas), diminuição das plantas espontâneas através do efeito supressor e/ou alelopático, evitando a incidência direta de radiação solar, proporcionando a manutenção da umidade e evitando oscilações de temperatura. O sistema radicular “agressivo” descompacta e estrutura o solo (agregação e aeração), aumentando a infiltração de água. Promovem reciclagem de nutrientes das camadas mais profundas do solo, sendo mantidos na forma orgânica (na planta) estando menos sujeitos a lixiviação e são disponibilizados (mineralizados) mais lentamente às plantas de acordo com a decomposição da matéria orgânica (CALEGARI, 2004; AMBROSANO et al., 2014).
Modalidades de uso
Em relação às modalidades de semeadura no Brasil (WILDNER, 2014), as plantas de cobertura são classificadas e agrupadas de acordo com o período de semeadura, identificando-se três modalidades básicas: plantas de cobertura de primavera/verão, outono/inverno e verão/outono. O ciclo das plantas de cobertura para cada modalidade varia de acordo com as características climáticas do local e características fenológicas das plantas.
As de primavera/verão referem-se à semeadura que se estende de setembro/outubro a janeiro/fevereiro. Já seu ciclo vegetativo, poderá se estender até maio/junho (por ocasião da ocorrência de geadas). Quando semeadas na época recomendada (setembro/dezembro), apresentam grande produção de biomassa e elevado aporte N (quando fabáceas). No entanto, nessa época competem por área com espécies comerciais, dessa forma apresentando baixa aceitação pelos agricultores.
As espécies mais conhecidas nessa modalidade são: crotalária juncea (Crotalaria juncea); crotalária spectabilis (Crotalaria spectabilis); feijão de porco (Canavalia ensiformes); guandu anão (Cajanus cajan); Lab-lab (Dolichos lablab); mucuna preta (Stiolozobium aterrimum); mucuna rajada (Mucuna deeringiana), mucuna cinza (Mucuna pruriens L.); Leucena (Leucena leucocephala); caupi (Vigna unguiculata) entre outras.
A adubação com plantas de cobertura de outono/inverno diz respeito à semeadura que inicia em março e estende-se até junho, com ciclo variando do mês de agosto até dezembro. Essa modalidade é a mais conhecida e adotada pelos agricultores na região sul do país. O seu cultivo foi difundido a partir do ano de 1971, com trabalhos realizados por Miyassaka, cujo objetivo era viabilizar a utilização de fabáceas durante a entressafra das culturas econômicas de verão (CALEGARI et al., 1993). O período de crescimento dessas plantas de cobertura coincide com o período que muitas áreas na região Sul do Brasil permanecem em pousio, período no qual o solo corre sério risco de erosão, proliferação de plantas daninhas, comprometendo dessa forma a produtividade de culturas tanto de inverno como de verão.
As espécies mais empregadas nessa modalidade são: aveia preta (Avena strigosa Schred.), aveia branca (Avena sativa L.) ervilhaca comum (Vicia sativa L.), ervilhaca peluda (Vicia villosa Roth.), ervilha forrageira (Pisum arvense L.), nabo forrageiro (Raphanus sativus L.), tremoço branco (Lupinus albus), tremoço azul (Lupinus angustifolius) centeio serrano (Secale cereale L.), azevém comum (Lolium multiflorum). Estas espécies podem cultivadas individualmente ou em consórcios.
A adubação com plantas de cobertura verão/outono é uma variante tanto da modalidade de primavera/verão quanto de outono/inverno. Essa modalidade procura viabilizar a semeadura de plantas de cobertura estivais (verão) em sucessão às plantas de interesse comercial (milho, soja e feijão) em semeaduras tardias e, semeaduras antecipadas de plantas de cobertura hibernais (inverno). O manejo dessas plantas pode ser realizado em junho com o objetivo de implantar a cultura do trigo (VIOLA et al., 2013; NETO et al., 2017) ou deixar as espécies vegetando até o mês de agosto onde se realiza o manejo para posterior semeadura da cultura do milho (CIESLIK, 2014).